A coprodução brasileira "As herdeiras" estreia hoje nos cinemas com uma bagagem recheada de prêmios


A coprodução brasileira "As herdeiras" (2018), do diretor paraguaio Marcelo Martinessi, logrou no último sábado (25) seis dos oito prêmios da competição de longas estrangeiros no Festival de Cinema de Gramado, incluindo Melhor Filme, Melhor Filme pelo Júri Popular, Melhor Filme pela Crítica, Melhor Direção, Melhor Roteiro e Melhor Atriz para Ana Brum, Margarita Irun e Ana Ivanova e, no Festival de Berlim 2018, foi laureado com Melhor Filme pela crítica FIPRESCI. O longa-metragem que estreia hoje nos cinemas, aborda de forma delicada o esfacelamento financeiro de duas herdeiras de famílias ricas no Paraguai. 

Com seus mais de 60 anos Chiquita (Margarita Irun) e Chela (Ana Brum), vivem juntas confortavelmente em uma casa há cerca de 30 anos. No entanto, elas observam não haver dinheiro suficiente para continuarem com o mesmo padrão de vida e, com isso, começam a vender os bens, incluindo móveis e louças. O desapego de objetos valiosos é encarado por cada uma de forma diferenciada, para a primeira algo necessário a ser feito, já para segunda há uma certa resistência e desconforto, uma vez que não quer contar para nenhuma das amigas a situação financeira e evitar falatórios. 

O modo distinto das personagens de lidarem com a crise, abre o leque para  particularizar a índole de cada uma, ao ponto de Chiquita ser presa por cobranças fraudulentas e  Chela ficar em casa, meio perdida aos cuidados da empregada doméstica Pati (Nilda Gonzalez). Devido aos acasos da vida, Chela inicia um serviço de táxi para senhoras ricas o que permite conhecer Angy (Ana Ivanova), uma mulher envolvente e misteriosa. O convívio entre as duas desperta em Chela sentimentos conflitantes, permitindo aflorar uma sensualidade esquecida.  

A ausência da figura masculina projeta uma narrativa construída no âmbito das relações entre as mulheres, o modo como as personagens cuidam uma das outras ou como se deixam afetar pela outra demonstra uma singularidade, uma vez que, o universo feminino na terceira idade é pouco explorado pelo cinema. Outra questão também exposta em "As herdeiras", é a de classe social por meio da relação entre patrão versus empregado, como por exemplo, as cenas em que Chela dá ordens para Pati, seja em abrir a porta ou a garrafa de vinho ou em como organizar a bandeja.

A casa revela-se como uma peça fundamental para o filme, pois é onde se desenvolve a maioria das cenas com a presença marcante de ruídos e o abrir e fechar de portas. A cenografia também merece destaque já que os objetos da casa ou o carro são colocados em evidência em várias sequencias, estampando o quão presa está a personagem de Chela à situação.

"As herdeiras" traça o caminho do afeto e das descobertas na terceira idade feminina, se sensibilizando com as dificuldades e conflitos que possa aparecer nessa fase da vida e, apostando nos imprevistos que surgem quando as pessoas deixam de resistir e aceitam as situações. Assim como Chela, ao guiar o espectador nessa narrativa delicada e emocionante.
CineBliss



Ficha técnica: 

As herdeiras (Las herederas) 
Paraguai/Brasil/Alemanha/França/Uruguai, 2018
Direção: Marcelo Martinessi
Roteiro: Marcelo Martinessi
Produção: Karen Franenkel
Elenco: Ana Brum, Margarita Irun, Ana Ivanova, Nilda Gonzalez

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