A solidão masculina com ingredientes meigos e sinceros traçam a jornada do herói no filme "Desajustados"


Islândia, país nórdico localizado no continente europeu surpreende nesse primeiro semestre o circuito nacional de cinema com dois filmes de qualidades excelentes, o já lançado "A ovelha negra" (2015) de Grímur Hákonarson e o mais recente "Desajustados" (2015) de Dagur Kári (O bom coração). Os dois possuem temáticas completamente diferentes, porém expõem algumas similaridades referentes ao homem solitário.

Em "Desajustados" a jornada fílmica se concentra no personagem Fúsi (Gunnar Jónsson), um adulto com comportamento tímido, sensível e passível que contrasta com a sua aparência física gigante e volumosa. Trabalha no aeroporto com despacho de malas, onde sofre bullying por parte de seus parceiros sem reagir ou denunciar a conduta. Mora com a mãe super protetora que logo perde espaço na casa com a chegada do padrasto.

Seu passatempo consiste em simular a Segunda Guerra Mundial em um tabuleiro de miniaturas com um amigo, ir à um restaurante asiático sozinho, ligar na rádio local para pedir rock pesado ou brincar com a vizinha de oito anos, também solitária, pois o pai encontra-se na maioria das vezes ausente. Esses divertimentos, assinala uma possível metáfora da infantilidade e não enfrentamento dos conflitos da vida no personagem.

No entanto, em seu aniversário de 43 anos eis que surge seu chamado a aventura quando ganha do padrasto um curso de dança. Receoso em sair de sua zona de conforto, já que dedica seu tempo as mesmas coisas diariamente, Fúsi desloca-se para as aulas. Nesse local ele conhece Sjöfn (Ilmur Kristjánsdóttir), uma atendente de floricultura ao qual também lida com a solidão e um problema emocional. A construção da relação dos dois é feita pelo diretor de uma maneira delicada e comovente, sem em nenhum momento sucumbir ao clichê, pelo contrário cria uma sensação de acolhimento do espectador perante o casal.

Com um ritmo lento e reflexivo, o filme contempla o público com um herói autêntico em sua jornada de descobertas sobre si mesmo, desapego materno e o enfrentamento da vida. O longa merecidamente faturou três prêmios no Festival de Tribecca em 2015 como Melhor Narrativa, Melhor Roteiro e Melhor Ator para (Gunnar Jónsson) e com certeza sensibilizará o coração de cada espectador que se permitir mergulhar nessa trajetória masculina de autoconhecimento e redenção. 
CineBlissEK  



Ficha Técnica: 

Desajustados (Fúsi)
2015, Islândia/Dinamarca
Direção: Dagur Kari
Roteiro: Dagur Kari
Produção: Agnes Johansen, Baltasar Kormákur
Fotografia: Rasmus Videbæk
Elenco: Gunnar Jónsson, Ilmur Kristjánsdóttir, Sigurjon Kjartansson, Franziska Una Dagsdóttir

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