"Homem irracional" novo filme do diretor Woody Allen aborda questões existenciais e o acaso como empurrão para transformações


Estreia hoje em circuito nacional "Homem irracional " o novo filme do diretor americano Woody Allen (Meia noite em Paris; Noivo neurótico, noiva nervosa) cuja trajetória de mais de 40 obras cinematográficas ainda consiste em proporcionar ao seu público histórias com temas já discutidos de um modo criativo e óbvio como acontece com seu recente longa metragem. A narrativa que parte da chegada de um novo professor de filosofia em uma universidade numa pequena cidade americana, traz diversas teorias existenciais para embasar a discussão da trama, além da questão do acaso como potência transformadora. 

O professor de filosofia, foco da narrativa é Abe Lucas (Joaquin Phoenix) um homem descrente da vida com visões pessimistas sobre os conceitos de filosofia que não são aplicáveis na vida real. Seus hábitos consistem em beber uísque regularmente, debater ideologias filosóficas no sentido de desestimular seus alunos e principalmente em rodear a morte com sua atitude desesperada. Entre seus estudantes encontra-se a bela Jill (Emma Stone) que ao se destacar como aluna começa a passar mais tempo ao lado do professor discutindo suas teorias e desilusões. Devido a regularidade dos encontros Jill se apaixona por Abe sem ser correspondida, pois ele prefere ficar na amizade e manter uma suposta relação com a professora casada Rita (Parker Posey). 

Seu chamado à aventura surge da forma mais inesperada possível, quando Abe está tomando café junto de Jill em um restaurante, ela o desperta de seu desespero para ouvir uma história da mesa ao lado sobre uma mulher relatando aos amigos a possível perda da guarda dos filhos devido a uma decisão do juiz Spangler considerado como corrupto. Ao prestar atenção na conversa, Abe imediatamente começa a elaborar uma ideia um tanto quanto estranha e já se imagina o salvador da vida dessa mulher.

Com a chegada desse plano mirabolante, Abe ganha novos ares para sua vida e modifica-se completamente, da bebida alcoólica diariamente ele parte para suco de laranja e apetitosos cafés da manhã, metaforicamente representando o renascimento de seu apetite pela vida. Sua fisionomia se torna mais leve, encontra entusiasmo em viver e inicia um caso amoroso com Jill. De um niilista ele se transforma num fervoroso amante da vida. Interessante observar que sua modificação não vem do romance com Jill, mas sim de seu plano de ser o salvador na vida de uma pessoa desconhecida e a relação com a aluna é apenas consequência desse ato, contrariando os clichês românticos de Hollywood.   

Como em outras obras cinematográficas (Match Point; Crimes e Pecados) Woody Allen trabalha com referências do livro "Crime e castigo" do autor russo Dostoiévski, com as divagações sobre a culpa ou a falta dela, sentimento esse que rege a maior parte da população ocidental católica. Também destaca o tema do acaso, ao qual o personagem Abe tem sua vida transformada devido a casualidade e não necessariamente ao amor.

Como em todos seus filmes o diretor assina o roteiro e traz na estrutura dos diálogos sua marca registrada, com referências culturais e filosóficas em praticamente toda narrativa. A trilha sonora é empolgante proporcionando uma energia contagiante ao público que ao mesmo tempo que sorri com as artimanhas de Abe sente um certo desconforto com a irracionalidade do personagem. Woody Allen com seus quase 80 anos não precisa provar seu talento e mesmo assim o cineasta oferece uma história prazerosa em assistir.
CineBlissEK



Ficha Técnica:

Homem Irracional (Irrational Man)
20015, Estados Unidos
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Produção: Edward Walson, Letty Aronson, Stephen Tenenbaum
Fotografia: Darius Khondji
Elenco: Joaquin Phoenix, Emma Stone, Parker Posey

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