"Colette" expressa os primórdios gritos femininos em buca de liberdade e igualdade na sociedade ocidental


A cinebiografia da escritora francesa do século XX, Sidonie Gabrielle Colette, ganha as telas do cinema hoje com a estreia do filme "Colette"(2018), do diretor inglês Wash Westmoreland (Para sempre Alice). Estrelado pela atriz Keira Knightley no papel da personagem-título, o filme retrata a jornada dessa mulher de origem camponesa, à frente de seu tempo, em Paris. Num primeiro momento da narrativa, a protagonista esbanja ares de inocência e, depois torna-se numa potência transgressora em busca da liberdade e igualdade de direitos e, em romper com comportamentos patriarcais. 

O período escolhido do longa-metragem permeia o casamento abusivo com Willy (Dominic West), um autor narcisista e com pouca criatividade, que contrata escritores - incluindo a própria esposa-, para escrever histórias e publicá-las como de sua autoria. O primeiro romance escrito por Colette - "Claudine à l'école" (1900) - e, assinado por Willy, torna-se em um fenômeno de vendas entre as mulheres e permite aos dois ganharem dinheiro e fama entre a sociedade parisiense. No entanto, essa união logo expõe o lado dominador de Willy sobre Colette, chegando a trancá-la dentro de um quarto para produzir mais narrativas. Ao mesmo tempo, a jovem começa a desfrutar de outros prazeres, cujo resultado é visto em seu questionamento sobre o casamento e na reivindicação por direitos das obras.

"Colette", é um ótimo exemplo dos primeiros gritos femininos em busca de liberdade e igualdade numa sociedade constituída por meio da dominação e exploração das mulheres. A personagem em seu universo burguês - entediada, fútil e com desejo - ao dar asas para imaginação, desperta para experimentar as mesmas aventuras dos homens, mas pelo fato de ser mulher, o preço a se pagar é alto. 

Observa-se já nas primeiras cenas do filme,  o comportamento subversivo da personagem que logo pode ser visualizado através de seu corte de cabelo (curto) ou em sua forma de se vestir (calças compridas e gravata), algo atípico para mulheres da época. Colette vai além, ao demonstrar também seu desejo por outras mulheres e em corporificar uma fisionomia andrógina.  

Destaque para a atriz inglesa Keira Knightley, cuja entrega na performance reverbera de modo virtuoso os conflitos e prazeres da escritora Colette, sem parecer algo estereotipado e, sim, natural. A progressiva conscientização de seus direitos referentes às suas obras, ganha uma fúria libertadora na cena em que a personagem reivindica colocar o seu nome como autora do livro junto de seu marido.

O roteiro consegue captar com excelência o ambiente de transformação no qual os personagens estão inseridos com um ritmo penetrante e eficiente. O espectador em poucos minutos de duração do filme, já se sente absorto na jornada da protagonista feminina e em como ela irá contar sua história. Como se Colette expressasse a ingenuidade e a cólera de tantas outras mulheres que foram oprimidas por homens e não puderam ser reconhecidas por seus trabalhos. 
CineBliss ****
*Filme visto no Festival do Rio 2018 




Ficha técnica: 

Colette (Colette)
Estados Unidos/ Reino Unidos/ Irlanda do Norte, 2018
Direção: Wash Westmoreland 
Roteiro: Rebecca Lenkiewicz, Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Produção:  Caroline Levy, Christine Vachon, David Minkowski, Dominic Buchanan, Elizabeth Karlsen, Gary Michael Walters, Ildiko Kemeny, Lisa Zambri, Michel Litvak, Pamela Koffler, Stephen Woolley
Fotografia: Giles Nuttgens
Montagem: Lucia Zucchetti
Elenco: Keira Knightley, Dominic West, Denise Gough 

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